Errar é humano...
Julgo que todos os jornais deviam ter obrigatoriamente um provedor. Normalmente, as questões que apresentam reflectem preocupações, dúvidas e reclamações dos leitores, as quais procuram responder segundo as regras internas de cada publicação.
No texto de ontem, do provedor do leitor do DN, foram abordados os erros de língua portuguesa (e também levemente o estilo). O provedor apresentou várias explicações, das quais gostaria de citar duas (os negritos são meus):
(...)Há anos o DN tinha revisores qualificados. Esse corpo de especialistas que olhavam minuciosamente as palavras foi progressivamente esvaziado. Em determinada altura, considerou-se que os jornalistas teriam eles próprios essa responsabilidade, pois sendo hoje na maioria possuidores de formação universitária teriam a obrigação de saber escrever correctamente.
Estes são de facto os primeiros problemas – considerar-se que a formação universitária é per si sinónimo de capacidade de escrever correctamente e o fim da figura de revisor nas redacções.
(...)O Fecho de Edição, nas horas que antecedem a conclusão do jornal, vê tudo o que pode ser visto sobretudo na capa, nos títulos, nas aberturas, nos leads, nos destaques e nas legendas, fazendo mesmo uma leitura mais atenta dos textos, quando há tempo para isso. (...)Os jornalistas do Fecho desempenham a função de copy desks, uma nova figura que surgiu entre nós na década de 90, pois nos EUA já existia há muito. Trata-se de uma intervenção que visa não só zelar pelo acabamento formal mas também pela correcção do texto, para que este seja claro, objectivo e sem erros. Essa função exige, por vezes, alguma reescrita nos textos originais por forma a adequá-los ao estilo de cada publicação.
Um outro problema dos dias de hoje, e principalmente dos jornais diários, é o tempo disponível em fecho para a eliminação das gralhas.
Ou seja, o que se passa é que, se por um lado, os textos passam por sucessivos "olhos" (jornalista, editor, copy desk, etc.), o que permitiria eliminar muitas das gralhas, especialmente por parte dos jornalistas mais antigos e/ou experientes; por outro lado, os timings apertados e a falta de especialização/preparação dos diversos intervenientes no processo para "caçar" as gralhas dá origem aos sucessivos erros que vamos encontrando na nossa imprensa, mesmo naquela dita de referência.
Quando vejo uma série de licenciados de Letras desempregados, muitos dos quais com experiência em revisão, penso que uma das causas "deste desemprego" (o das Letras) se deve a uma falta de vontade, falta de rigor na linguagem e despreocupação que muitas empresas apresentam na comunicação escrita. E não me refiro só à comunicação social...
No texto de ontem, do provedor do leitor do DN, foram abordados os erros de língua portuguesa (e também levemente o estilo). O provedor apresentou várias explicações, das quais gostaria de citar duas (os negritos são meus):
(...)Há anos o DN tinha revisores qualificados. Esse corpo de especialistas que olhavam minuciosamente as palavras foi progressivamente esvaziado. Em determinada altura, considerou-se que os jornalistas teriam eles próprios essa responsabilidade, pois sendo hoje na maioria possuidores de formação universitária teriam a obrigação de saber escrever correctamente.
Estes são de facto os primeiros problemas – considerar-se que a formação universitária é per si sinónimo de capacidade de escrever correctamente e o fim da figura de revisor nas redacções.
(...)O Fecho de Edição, nas horas que antecedem a conclusão do jornal, vê tudo o que pode ser visto sobretudo na capa, nos títulos, nas aberturas, nos leads, nos destaques e nas legendas, fazendo mesmo uma leitura mais atenta dos textos, quando há tempo para isso. (...)Os jornalistas do Fecho desempenham a função de copy desks, uma nova figura que surgiu entre nós na década de 90, pois nos EUA já existia há muito. Trata-se de uma intervenção que visa não só zelar pelo acabamento formal mas também pela correcção do texto, para que este seja claro, objectivo e sem erros. Essa função exige, por vezes, alguma reescrita nos textos originais por forma a adequá-los ao estilo de cada publicação.
Um outro problema dos dias de hoje, e principalmente dos jornais diários, é o tempo disponível em fecho para a eliminação das gralhas.
Ou seja, o que se passa é que, se por um lado, os textos passam por sucessivos "olhos" (jornalista, editor, copy desk, etc.), o que permitiria eliminar muitas das gralhas, especialmente por parte dos jornalistas mais antigos e/ou experientes; por outro lado, os timings apertados e a falta de especialização/preparação dos diversos intervenientes no processo para "caçar" as gralhas dá origem aos sucessivos erros que vamos encontrando na nossa imprensa, mesmo naquela dita de referência.
Quando vejo uma série de licenciados de Letras desempregados, muitos dos quais com experiência em revisão, penso que uma das causas "deste desemprego" (o das Letras) se deve a uma falta de vontade, falta de rigor na linguagem e despreocupação que muitas empresas apresentam na comunicação escrita. E não me refiro só à comunicação social...
3 Comments:
Essa dos copy-desks... Para já, detesto a palavra, embora eu seja (também) um deles. O que havia e há nos EUA é 'copy editors'. 'O copy desk' é o local onde os 'copy editors' trabalham -- é um erro de tradução incrível. Penso que uma tradução mais adequada seria 'editor de texto', embora os 'copy editors' nos EUA tenham uma função que se assemelha mais ao que se chama cá editor de fecho. Além de zelarem pela correcção gramatical, ortográfica e de estilo, têm também a responsabilidade de cortar texto quando sobra e de escrever os títulos, destaques e legendas. E as editoras também têm 'copy editors', que têm até muitas vezes a responsabilidade de alterar bastante os textos que são publicados. No fundo é uma função equivalente aos montadores no cinema, que nos EUA se chamam também 'editors'.
Por cá, inventou-se a figura do copy-desk quando apareceram os computadores nos jornais -- o primeiro a tê-los foi o Expresso, que ainda hoje é o que tem a maior e melhor secção de copy-desk, e é só por isso que é o jornal português mais bem escrito e com menos gralhas.
O problema é que não se levou a coisa até ao fim, e os copy-desks acabaram por ficar numa situação ambígua -- não são bem revisores mas também não são editores, muitos revisores foram simplesmente reciclados para copy-desks sem terem vocação para isso, não há delegação de funções... Uma seca. Quanto a mim as coisas melhorarariam bastante para todos, profissionais da imprensa e leitores, se se seguisse o exemplo americano até ao fim. Mas também me parece que devia continuar a haver revisores de provas, puros e duros, à antiga, porque um bom editor de texto não é necessariamente um bom revisor. São coisas muito diferentes, há que seja melhor numa coisa do que noutra, e também há quem goste mais de ser revisor. Eu ficaria muito feliz com essa mudança, mas não me parece que vá acontecer agora que anda tudo convencido que os correctores ortográficos resolvem tudo.
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Unknown, at 6:04 da tarde
Ora aí está a explicação: revisores e editores! Por razões que já não têm que ver essencialmente com poupanças, mas com a falta de rigor, esforço, zelo, brio profissional, ou melhor, neste caso, brio empresarial, que cresce desmedidamente em Portugal, tudo pode ser reduzido ao mínimo, desde que passe...
O revisor parece-me indispensável. Veja-se o caso de alguns jornais franceses: por exemplo, o Lib´eration ou o Le Monde, este último com um blogue excelente; além de animar o jornal, esclarece e faz a ponte de outra maneira com os leitores.
Langue sauce piquante http://correcteurs.blog.lemonde.fr/
Evidentemente que errar continuará, graças a Deus, a ser humano.
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Dinamene, at 10:40 da tarde
Não tem a ver com poupanças?? Claro que tem. Há tempos o provedor do leitor do Público falou do problema das gralhas e a resposta do director foi esclaredora: qualquer coisa do género 'as novas tecnologias informáticas dispensam os cipoy-desks'. Hoje no Público as páginas só são revistas no fecho, pelo jornalista de fecho em serviço.
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Unknown, at 5:02 da tarde
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